Amor incondicional
Quando estou sem inspiração para escrever o meu editorial, costumo ir ao meu arquivo e reler alguns até encontrar um que possa se enquadrar no que gostaria de compartilhar com vocês. O tema deste mês já abordei há algumas dezenas de anos, mas, sem dúvida alguma, é sempre mais do que atualizado.
Há três décadas minha falecida mãe viveu os seus últimos cinco anos de vida em uma clínica para idosos, e confesso que foi muito difícil, quando na qualidade de filho único, tive que tomar a decisão de interná-la. Contudo, tempo depois, cheguei à conclusão que foi o melhor que poderia ter feito por ela, naquele momento. Até o seu falecimento, nunca deixei de visitá-la sequer um dia e, sempre que podia e ainda enquanto a condição física permitia, a levava para passear e almoçar fora.
Alguns anos depois, minha sogra, com a saúde agravada por Mal de Alzheimer, também teve que passar pelo mesmo processo e ir para uma clínica. Com três filhas, evidentemente que ela sempre esteve acompanhada por alguém lhe dando uma atenção especial, além daquela que já recebia dos profissionais.
– Mas, Claudinei, todos temos problemas, onde você quer chegar trazendo estas informações para os seus leitores?
– Já vou explicar, meu amigo. Tanto durante o tempo de minha mãe e depois o da minha sogra, observei que existem idosos que simplesmente são abandonados pela família. Alguns ainda lúcidos e conscientes cobram a visita de seus filhos, que em datas festivas comparecem para uma pequena visita, a exemplo do que pude presenciar em muitas festas de final de ano, mas que os esquecem durante o ano.
Lembro que uma colega de quarto de minha mãe não recebia visita da família e tampouco do filho havia meses e ela chorava quando íamos lá. Não tive dúvidas. Peguei o endereço e no outro fim de semana fui buscar o filho que morava em Mauá e o levei até lá, na época uma clínica de recuperação no interior de São Paulo. Impossível retratar a emoção e gratidão dela.
Num determinado dia folheando o um livro do amigo José Orlando Nussi e, como nada acontece por acaso, defrontei com uma história sobre o Amor Incondicional, que tinha tudo a ver com os casos acima, a qual resumidamente transcrevo aqui:
“Trata-se da história de um senhor idoso que foi a um consultório médico para um curativo e pediu urgência em seu atendimento, porque tinha um compromisso inadiável. O médico que o atendia, curioso, perguntou o que tinha de tão urgente para fazer.
O simpático velhinho lhe disse que todas as manhãs ia visitar a sua esposa, que estava em um abrigo para idosos, com Mal de Alzheimer, em estágio muito avançado.
O médico, muito preocupado com o atraso do atendimento, disse: – Então, hoje ela ficará muito preocupada com a sua demora?
Ele respondeu: – Não, ela já não sabe quem eu sou. Há quase cinco anos que não me reconhece mais.
– Mas, então para que tanta pressa e necessidade em estar com ela todas as manhãs, se ela já não o reconhece mais? – questionou o médico, para o qual o velhinho deu um sorriso e, batendo de leve no seu ombro, respondeu:
– Ela não sabe quem eu sou… Mas, eu sei muito bem quem ela é!
O médico teve que segurar suas lágrimas enquanto pensava…. É esse tipo de Amor que quero para minha vida.”
E você, meu amigo leitor, já parou para pensar nisto? E para você, que tem ou conhece alguém nestas condições e cuja família ainda é resistente, espero ter dado insights que possam tocar os seus corações, mesmo porque o verdadeiro amor é a aceitação de tudo o que o outro é… De tudo que foi um dia…Do que será amanhã… E do que já não é mais!
Lembre-se que, apesar dos pesares, é fevereiro e em fevereiro… tem Carnaval, ainda que este, na virada do mês!!!
Forte e fraternal abraço e boa leitura
Claudinei Luiz
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